João Calandro o Cangaceiro Milagrense Parte 2


Logo depois, fugido da cadeia de Crato, juntou-se ao grupo de Inocêncio Vermelho, o criminoso João Calangro, natural de Milagres, onde era conhecido por João Senhorinha. Seu verdadeiro nome, porém, era João de Sousa Calangro. Ele era de estatura baixa, sardento e de cabelos cor de fogo, e não deve ser confundido com o negro João Calangro, perverso cangaceiro de Antônio Quelé, abatido no dia 27 de novembro de 1910 por companheiros seus, nas proximidades de Jati, entre a ladeira do Pacífico e a fazenda Oitis.

A Comarca de Jardim tornava-se um viveiro de criminosos, no qual José Ataíde Siqueira (Zuza Ataíde), Inocêncio Vermelho, João Calangro, Barbosas, Brilhantes, Viriatos, Agostinho Pereira, Pedro Simplício, Carneiro, Manuel Tomás e outros representam o papel de peixe-rei, cuja força estava na razão das façanhas. Em junho de 1876, Inocêncio foi morto na região do Poço, por Sebastião Pelado, que agia a mandado de Antônio Tomás de Araújo Aquino, irmão de Andrelino de Araújo. Morto Inocêncio, João Calangro assumiu a chefia do grupo, ao qual se incorporou Antônio Vermelho, irmão de Inocêncio, a fim de liquidar Sebastião Pelado, que, por sua vez, formava outro grupo. 

A luta entre esses bandos rivais, cuja zona de operações se estendia ao território paraibano, atingiu seu clímax quando Dinamarico e José Pombo Roxo, do grupo de Pelado, eram mortos por João Calangro e Gato Brabo, e Manuel de Barros, do séquito de Calangro, foi morto por Pelado. Naqueles velhos tempos, o Brejo era o lugar preferido pelos bandoleiros que infestavam o Cariri, por motivo de suas condições naturais. No meado de 1876, procedente da vila de Várzea Alegre, ali se encostou o facínora Luís de Góis, acompanhado de Zuza Ataíde.

Dentro da povoação de Porteiras, os dois grupos se defrontavam e travavam forte tiroteio, morrendo na luta José Roberto, que ali se reunira com Pelado. O morto, famoso sicário, vivia sob a proteção do capitão José Mateus Pereira da Silva, morador na comarca de Vila Bela, da província de Pernambuco. O capitão José Mateus exigia de Sebastião Pelado a orelha de João Calangro, ameaçando-o de morte caso não se desincumbisse logo a tarefa. Para agravar ainda mais a situação dos habitantes da região, forças irregulares do capitão José Mateus chegaram ao Brejo, em perseguição ao grupo de Calangro. Num encontro entre os dois grupos, Sebastião Pelado recebia mortal ferimento, enquanto João Calangro, sabendo do estado do capitão José Mateus em Porteiras, ia até a povoação, no dia 02 de agosto de 1877, e lá diria-lhe toda sorte de impropérios e ameaças por espaço de dez horas.

O capitão José Mateus seguia com destino ao Pajeú, região baluarte dos Pereiras, e de lá trazia mais de cem homens, encontrando-se entre eles grande número de delinquentes. O 2° suplente de Juiz Municipal de Jardim, capitão Juvenal Simplício Pereira da Silva, sobrinho legítimo de José Mateus, assumia o exercício e autorizava a Força de Mateus a capturar João Calangro. A Força era divida em três grupos. Seguia um para Brejo dos Santos, outro para Missão Velha, e outro, comandado por Mateus e seus genros Galdino Alves de Araújo Maroto e Manuel Pereira da Silva, para Milagres.

Em 15 de agosto de 1877, o grupo comandado por Mateus assassinava a Manuel Valentim e espancava barbaramente a Trajano de tal, pelo simples fato de agasalharem o grupo de Calangro. A Força pernambucana, a pretexto de perseguir Calangro, praticava uma série de delitos. O tenente Alfredo da Costa Weyne, que se achava em Milagres, deliberava por cobrança a tais atrocidades. Aceitava, porém, a sugestão do Dr. Antônio Augusto de Araújo Lima, que julgava mais acertado enviar Balduíno Leão, amigo de Galdino Maroto, a fim de encontrar uma solução honrosa.

Balduíno, amigavelmente, conseguia que dez homens de Mateus se incorporassem à Força de Weyne, o que ocorria no sítio Bela Vista, distante meia légua de Milagres. De volta de sua excursão, os Mateus chegavam a Milagres no dia 23 de agosto, em número de 40, depois de serem cometido as maiores violências contra sertanejos indefesos. A permissão dada ao capitão Mateus, para, com Força irregular, perseguir os Calangros, criava péssimo precedente e aumentava a insegurança individual na região. Os grupos de Mateus preocupavam sobremaneira as autoridades cearenses. Um dos grupos tinha por comandante a José Rodrigues e o outro a Vila Nova, ambos conhecidos assassinos. 

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